(CPT)
Uma
notícia está chegando lá do interior
Não
deu no rádio, no jornal ou na televisão
Ficar
de frente para o mar, de costas pro Brasil
Não
vai fazer desse lugar um bom país
- Milton Nascimento
Prenderam
Cacique Babau e seu irmão na Bahia, executaram dois companheiros sem terra e
deixaram muitos feridos no Paraná, no dia 07 de abril. Uma liderança de assentamento
e do PT na Paraíba foi executada dentro de casa, ao lado da filha de um ano, no
dia 06. No dia 31 de março, na comunidade quilombola Cruzeiro, município de
Palmeirândia, MA, foi encontrado morto por disparo de arma de fogo o
quilombola, conhecido como Zé Sapo. Em Rondônia mortes violentas,
desaparecimentos e crimes rondam as comunidades camponesas. Em Mato Grosso e no
Pará despejos violentos são constantes, e fazendeiros mandantes de crimes contra
lavradores são absolvidos. No Mato Grosso do Sul as comunidades indígenas vivem
ameaçadas e violentadas em suas próprias terras ancestrais.
Em 2015, o sangue de 50
trabalhadores e trabalhadoras assassinados no campo e o sangue de Vitor,
criança Kaingang degolada no colo da mãe na rodoviária de Imbituba, em Santa
Catarina, continuam a escorrer na vala da impunidade. Ao sangue deles se soma o
de outros 13 lutadores e lutadoras tombados neste ano de 2016.
É competência do Governo Federal
demarcar terras indígenas e fazer a Reforma Agrária. Se coisas como essa
acontecem é porque há milhares de camponeses debaixo da lona preta à espera da
tão prometida - e hoje abandonada - reforma agrária, e ainda milhares de
indígenas e quilombolas tentando retomar os territórios dos quais foram
esbulhados.
O fim do mundo para o povo
excluído começou faz tempo. A execução de camponeses e indígenas nesse país é
coisa comum.
Quando o governo federal entregou
o Ministério da Agricultura para o agronegócio, autorizou também o latifúndio a
continuar expulsando e matando os/as trabalhadores/as sem terra e indígenas.
Quando a reforma agrária vira
moeda de troca e cabide de emprego na ineficiência criminosa do Incra, os
antigos laços entre policiais e jagunços se reforçam mantendo intacto o cenário
sem lei e sem direito no campo no Brasil.
Quando o TCU (Tribunal de Contas
da União) determina a paralisação imediata do programa de reforma agrária do
Incra em todo o país, age assim porque é um programa que beneficia excluídos,
não faz a mesma coisa quando fraudes maiores e mais graves acontecem no sistema
financeiro, ou quando estão envolvidas grandes empresas.
Quando a estrutura política,
econômica e jurídica do país se move ao redor dos interesses de uma minoria
burguesa, elitista e racista contra os interesses das maiorias negras e pobres,
autoriza também o terror nas favelas e periferias – no campo e na cidade.
Na contramão dessa barbárie
institucional e política, o povo do campo, com coragem, se insurge e mantem
viva a esperança do seu território reconquistado, como fazem os Tupinambás e
tantas outras etnias indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Como
acontece na incansável e inglória luta pela terra pelos posseiros e sem terra
de todos os cantos. Esse é o verdadeiro Brasil do sacrifício e da semente dos
mártires, plantada e replantada na terra que sangra todos os dias.
Pensar o cenário nacional hoje
não pode ser um exercício curto de identificar os golpistas de sempre e as
manipulações da mídia. Que sejamos contra o golpe institucional que se
encaminha, mas que sejamos também honestos: a democracia que queremos tem que
passar pela terra, tem que começar pelos territórios indígenas, tem que
interromper a destruição de florestas e cerrados, e estancar de vez o
sofrimento e assassinato do povo que busca terra pra viver e plantar.
A democracia que queremos começa
no chão! A democracia que defendemos passa pela casa do povo pobre! A
democracia que buscamos precisa reconciliar esse povo com esse território,
acabando de vez com a sanha assassina do capitalismo e seus truques de colocar
as maiorias de joelhos longe do poder e as minorias pelos salões e corredores
trocando favores e influência.
A democracia que queremos... não
existe! O projeto popular para o Brasil que construímos foi derrotado e precisa
ser reinventado. A hora para fazer isso, é agora. O povo que vai fazer isso,
somos nós, pela base.
A CPT convocada pela memória
subversiva do evangelho da vida e da esperança, fiel ao Deus dos pobres, à
terra de Deus e aos pobres da terra, ouvindo o clamor que vem dos campos e florestas,
seguindo a prática de Jesus, se junta a outros movimentos e articulações na
denúncia do sistema que violenta o direito dos pobres e mais fracos.
Nossa irrestrita solidariedade ao
cacique Babau, ao povo do campo, das águas e das florestas, aos sem terra e a
todos os que sofrem a intolerância e a perseguição, quando buscam o
reconhecimento de sua cidadania e dos seus direitos. Que sigamos em caminhada,
em romaria em busca da terra sem males!
Aqui vive um povo que merece mais
respeito
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor...
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor...
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade
Ser mais sábio que quem o quer governar
- Milton
Nascimento
Goiânia, 08 de abril de 2016.
Coordenação Executiva Nacional da
Comissão Pastoral da Terra
Mais informações:
Cristiane
Passos (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6406
Antônio
Canuto (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6412
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